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EDUCAÇÃO

Os dilemas da reprovação escolar

Os sistemas educacionais precisam se reinventar com urgência.

Publicado em 31/12/2019 às 05:40
Atualizado em

(Foto: Divulgação / Shutterstock)

O déficit da aprendizagem no Brasil é recorrente e fica explícito cada vez que são divulgados indicadores internacionais de medição de proficiência dos estudantes. Não raramente somos ultrapassados por países com economias menos robustas do que a nossa, o que aumenta ainda mais o constrangimento. Sem dúvida, caminhamos a passos largos para vencer o desafio de oportunizar que a quase totalidade das crianças em idade escolar estejam dentro das salas de aula. Não é pouca coisa, considerando que até alguns anos atrás concluir o ensino fundamental era privilégio de uma minoria.

Contudo, como descobrimos a duras penas, a inclusão por si só não garante a qualidade. Há inúmeros fatores que contribuem para isso, com diversos agentes envolvidos. Ninguém tem culpa pelo fato de os objetivos de ensino e aprendizagem não serem alcançados, mas muitos têm responsabilidade. Seriam necessárias várias páginas para discorrer sobre cada um desses fatores, suas causas, consequências e possíveis soluções.

Fato é que, findado o ano letivo, professores, coordenadores e diretores se encontram diante de uma encruzilhada: aprovar ou reprovar? É na dicotomia dessas duas simples palavras que está resumida toda a avaliação da trajetória de um aluno que, muitas vezes, não reúne as condições esperadas para avançar para o nível seguinte. Se em um primeiro momento a reprovação pode parecer um caminho óbvio, um olhar mais atento e contextualizado torna a decisão mais complexa.

O primeiro motivo é que, geralmente, vários alunos da turma se encontram no mesmo patamar.
Além disso, em um cenário de estrutura limitada, não há garantia nenhuma de que manter o estudante na mesma série por mais um ano vá lhe render a aprendizagem desejada. Somado a isso, vem o fato de que a repetência está fortemente associada à evasão escolar, sobretudo nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Além disso, o principal indicador da qualidade da Educação Básica no Brasil, o IDEB, tem como uma de suas principais variáveis os dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar realizado anualmente.

Portanto, não há caminho auspicioso. Aprovar pelo conselho de classe ou reprovar são decisões igualmente difíceis que evidenciam o fracasso de um modelo educacional voltado para o passado, inserido em uma sociedade na qual a desestruturação familiar é comum e que políticas públicas de modernização são implantadas quase sempre com atraso ou de forma pouco eficaz. Os sistemas educacionais precisam encontrar respostas urgentes para se reinventar em um mundo que se transforma de maneira acelerada. Do contrário, continuaremos tendo que maquiar os resultados e escolher entre o caminho ruim e o menos pior.

 Luís Felipe Loro | Igrejinha/RS

Sobre o Autor

Professor de Língua Portuguesa, com Graduação em Letras pela Universidade Feevale, especialização em Formação de Leitores pela Faculdade Dom Bosco e pós-graduando em Gestão Pública pela Universidade Católica do Brasil. É também diretor do Instituto Desenvolver, que oferece aulas de empreendedorismo a adolescentes e adultos.

Luís Felipe Loro | Igrejinha/RS


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