Mesmo após séculos de lentos avanços sociais, o Brasil segue sendo um país marcado por uma ampla desigualdade. Naturalmente, esse desnível cultural e econômico tem reflexos profundos no contexto educacional. No entanto, a sala de aula demorou para apresentar esse cenário desigual de forma ampla, porque até o final do século passado, os índices de alunos fora da escola eram muito altos.
Atualmente, as salas de aula da educação básica são muito mais heterogêneas, e a evasão escolar começa a se tornar realidade de forma expressiva um pouco mais tarde, no ensino médio. Mesmo os alunos oriundos de famílias das classes mais vulneráveis tendem a concluir o 9o ano do ensino fundamental em sua imensa maioria, algo que era pouco provável há alguns anos.
Com um perfil mais variado de alunos, a atividade docente se tornou mais desafiadora. Encontrar um caminho de equidade em uma turma repleta de estudantes das classes sociais mais distintas, além do aumento expressivo dos casos de inclusão de alunos com deficiência, não é tarefa fácil. A escola do século XXI é mais plural, envolvida em uma sociedade dinâmica, mas imersa em um cenário em que os alunos apresentam diferentes condições de acesso a recursos tecnológicos, elementos cada vez mais importantes de aprendizagem.
O isolamento social escancarou este problema. Instituições particulares de ensino não tiveram grandes dificuldades para implantar o EAD, enquanto as redes públicas esbarraram em um obstáculo óbvio: como garantir que alunos sem celular ou computador, ou sem acesso à internet em suas residências, pudessem acompanhar as atividades?
Soluções criativas, como a disponibilização de atividades impressas em horários pré-determinados, conseguiram equacionar parcialmente essa falta de estrutura, mas deixam claro que as muitas realidades presentes na Educação fazem com que a aprendizagem não seja uma percurso igual para todos. Os alunos que realizarão provas de seleção, vestibulares ou o ENEM no final do ano, por exemplo, se veem diante de um dilema terrível, considerando que terão concorrentes a superar: como se preparar de forma satisfatória, longe das salas de aula e ainda sem acesso à tecnologia?
Para a Educação entrar de verdade no século XXI, o acesso à internet
precisa ser visto como essencial, com ou sem pandemia. A democratização digital é uma medida urgente de política pública, e possibilitará formar cidadãos aptos a construir um país mais competitivo no cenário internacional. Aliás, não é coincidência que nos maiores PIBs do mundo a internet seja muito mais veloz e mais barata do que aqui. Universalizar o acesso tecnológico não é nem de longe a panaceia que vai remediar todos os males da desigualdade, mas pode ser um bom começo.

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